As melhores decisões no âmbito gerencial — isto é, as que resultam em benefício incontestável para a administração da empresa — são aquelas baseadas em dados objetivos. Porém a confiabilidade desses dados tem sido relativizada à medida que se depende mais de fontes externas para tomar certas decisões.
Fake News (“notícias falsas”) não é, nem de longe, um assunto recente; contudo, em uma época de crise, como a que o mundo vive hoje, é preciso tomar precauções extras para que não seja perdido aquilo que com muito custo pôde-se manter. Dado que a “notícia” em si tem seu grau de confiabilidade a partir de sua influência, deve-se considerar que, ao menos teoricamente, os mais influentes são dotados de maior “poder” sobre a verdade, isto é, detêm maior autoridade em suas declarações.
Então o que fazer quando essas “autoridades” não exercem seu poder em prol da verdade?
Vale lembrar que, quando isso ocorre, não se pode associar a falta de integridade apenas a uma classe de autoridades (políticos, por exemplo), como muitos são levados a fazer; afinal, a “autoridade midiática” também não é exatamente ideal. Apesar de ter o objetivo de propagar os fatos — ao menos na ideia —, a mídia precisa se valer da sensação de prioridade para direcionar o foco do telespectador, do leitor, do ouvinte… O desvio do foco é um potencial perigo à massa, pois a cogitação de outros fatos torna-se quase inacessível (ainda que tais fatos mereçam mais atenção), devido ao momento mais propenso para o direcionamento da mídia, que por sua vez se veste apenas como “mensageira” das decisões no âmbito político — isso sem mencionar a eventual parcialidade pública de algumas figuras importantes da mídia em posicionamentos críticos, o que é, sem sombra de dúvida, incorreto.
Não há também, obviamente, que se conceder alguma isenção aos parlamentares, visto que são inúmeros investigados e que, como por milagre, conseguem se restabelecer com um discurso moralista. A própria existência das CPIs já é motivo para certo grau de desconfiança nas autoridades políticas.
O ideal é que o cidadão, sobretudo o empresário, trate a verdade como ela é: incontestável. Para tanto, as fontes de obtenção de dados devem ser as mais concretas (publicações nos Diários Oficiais, gravações de sessões do Plenário, coletivas de imprensa, entre outras fontes oficiais de informação). Mas, ainda assim, a parte passiva da notícia (aquele que a recebe) deve se munir da interpretação correta daquilo que é lido, visto ou ouvido. Não se pode, por exemplo, ouvir “flexibilização consciente” e entender “fim da quarentena”, tampouco ouvir “Lei de Fake News” e entender “ameaça à liberdade de expressão” — até mesmo porque a verdade deve prevalecer sobre a liberdade de expressão.
Não apenas isso, com também, em matéria legal, aquele que recebe a notícia deve estar à par de que há todo um processo legislativo a ser observado, desde a legitimidade da proposta do Projeto de Lei até a sanção (ou veto) do Chefe do Executivo. Nesse ínterim, não há o que especular diante das várias alterações que o texto pode sofrer, tampouco tomar decisões com base nos efeitos hipotéticos daquilo que ainda não é definitivo.
As decisões serão melhor tomadas observando-se todos esses aspectos, pois, além da assolação da pandemia, há autoridades que, por algum motivo, são bem sucedidas ao difundir inverdades, devendo os empresários redobrar a atenção, tanto às fontes de dados quanto à interpretação que é dada às notícias propagadas, para que não sejam vítimas de desvio de foco, levando a empresa a um direcionamento incorreto.
Texto por: Guilherme Mascarenhas